As células T reguladoras CD4+CD25+Foxp3+ (Treg) são imprescindíveis para o estabelecimento da tolerância periférica. Essa população pode ser originada tanto no timo quanto no ambiente pós-tímico, e estudos recentes revelaram a importância das células Treg periféricas no controle da homeostase intestinal e da auto-tolerância. No compartimento periférico, linfócitos T convencionais CD4+CD25-Foxp3-(Tconv) podem ser induzidos a expressar o fator de transcrição chave do fenótipo supressor, Foxp3, após reconhecimento antigênico específico em presença de IL-2 e TGF-β. A indução pós-tímica de células Treg ocorre preferencialmente no nicho da mucosa intestinal e é significativamente modulada pela microbiota comensal. Apesar da célula dendrítica ser considerada o principal tipo celular envolvido na modulação da homeostase periférica de células Treg, nosso grupo e outros já demonstraram a importância de linfócitos B para geração de Treg no ambiente pós-tímico. No entanto, o papel da estimulação de linfócitos B por componentes microbianos sobre a modulação do compartimento de células Treg permanece obscuro. O objetivo deste trabalho, portanto, foi determinar a influência da sinalização MyD88-dependente nos linfócitos B, em resposta a componentes microbianos conservados evolutivamente, tanto na diferenciação in vitro de células Treg (iTreg) quanto na dinâmica populacional in vivo do compartimento de Treg presente em órgãos linfoides periféricos associados ou não à mucosa intestinal. Para determinar o impacto da sinalização do linfócito B por agonistas de receptores do tipo Toll (TLRs) sobre a geração de iTreg, células Tconv CD4+CD25-Foxp3-, purificadas de camundongos.C57BL/6 Foxp3gfp por cell sorting, foram co-cultivadas, sob condição polarizante para o fenótipo regulador, com linfócitos B esplênicos isolados de doadores WT, Tlr9-/-, Myd88-/-ou Il6-/-, na presença ou ausência de CpG ou LPS. Nossos resultados demonstraram que o potencial dos linfócitos B em induzir a diferenciação de células T reguladoras in vitro foi inibido pelo CpG e LPS de maneira dependente de MyD88. A produção da citocina IL-6 pelos linfócitos B em resposta ao CpG contribuiu significativamente para a inibição da diferenciação de iTreg. Curiosamente, esta inibição correlacionou-se com níveis reduzidos de expressão de MHC classe II e marcadores de ativação pelos linfócitos B, num processo também mediado pela IL-6. Apesar de seu contato mais frequente com componentes microbianos in vivo, células B provenientes dos linfonodos mesentéricos (BmLN) foram tão competentes em potencializar a geração de iTreg quanto as de origem esplênica. Todavia, as células BmLN privadas do contato com a microbiota in vivo, por meio do tratamento de animais WT com antibióticos, foram mais eficientes na promoção de Treg in vitro. Corroborando com esse dado, foi encontrado um maior número absoluto de células Treg CD4+Foxp3+, decorrente de proliferação aumentada, nos linfonodos mesentéricos do animal deficiente em MyD88 exclusivamente nos linfócitos B (CD19CreMyd88flox/flox). Em comparação com o controle WT, este animal também apresentou números mais baixos de Treg CD25+ no baço e menor proliferação das células Foxp3+ totais nas placas de Peyer. Portanto, demonstramos que (i) a estimulação direta do linfócito B pelos ligantes de TLR CpG e LPS inibe seu potencial pró-Treg in vitro e (ii) a sinalização MyD88 dependente intrínseca ao linfócito B participa na modulação homeostática do compartimento periférico de células Treg. Esses dados contribuem para elucidação do eixo imunorregulatório entre linfócitos B, células T reguladoras e microbiota na fisiologia imunitária.
Palavras-chave: Células T reguladoras; linfócitos B; microbiota; receptores do tipo Toll; imunorregulação; Foxp3; MyD88